quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Infância


rosas azuis

o teu amor é tão impossível como o branco
aquela cor que todos tocamos
invadimos pelas manhãs dentro
e de que tomamos posse através do vazio dos nomes
é fácil termos por certo aquilo que é ilusório
o advento das sombras
veio despojar-nos da propriedade das nossas palavras

coloquei a minha mão numa nuvem
fui eu que a desenhei
tal como o teu rosto
outrora a nuvem era um barco
era uma mãe a dar colo ao céu
o sono do vento era eterno enquanto houvesse poema

hoje a minha infância constrói-se com coloridos blocos de madeira
na antecâmara dos teus braços
vou aprendendo a soletrar o amor com as letras do teu silêncio
gostava de poder condensar o poema numa única palavra
e desta vez a nuvem seria um breve sopro
uma daquelas rimas que se costumava ouvir segredar em Hiroshima
afinal nunca se sabe o que o céu tem reservado
quando se gere um paraíso

precipitação
dizias-me que há horas certas para se colher o poema
quisera eu que não houvesse tempo
todos os voos ficariam suspensos
e as nuvens sairiam daquela sua inércia maquinal
um poema sem versos sem acidentes sem altares
no fundo todas as portas que nos entalam e rasgam são efeitos da seca

e no entanto
só haverá chuva quando eu fechar os olhos
devagar