terça-feira, 23 de outubro de 2007

Retórica


um ponto final
era insuficiente para marcares as horas
quando te vi a dobrar a esquina
soube imediatamente que tinhas pressa
que dizer do teu silêncio?
sempre foste um poeta pós-modernista
mesmo enquanto me amavas
reduzias o vapor à sua essência mais concreta
sempre mediste o mundo com a palma da tua mão
talvez por isso não me pudeste conter
que me importam os rótulos?
eu próprio tinha mais asas que os dedos na tua mão

e se eu partisse a mesa onde apoias o teu mundo?
nasceria um deus emprestado
dissolvente
ou apressar-te-ias a colar tudo como estava?

adoro dançar à chuva
mostrar-te que conheço os segredos da luz
da decomposição das cores
vestir-me de sombras
mentir a mim mesmo
sentir a mesmíssima mão dos poemas concretos
a colidir com a minha face
pelo movimento do relógio concluo
que significo uma nova revolução estética
se me olhas desfazes o meu nome
se me dizes entro em silêncio
o meu rosto não podia sobreviver à tua mão sobre a mesa