quinta-feira, 7 de junho de 2007

Tratado


voar

é a alma que rompe os espaços
uma asa encontra-se com o seu reverso
face e contra-face
espelhos
suspensão

o céu não existe a menos que o digas

que é feito dos planos que dizias ter?
onde a tua estratégia,
o teu domínio
a sombra da tua mão a afagar a minha?
e da próxima vez que nos tocarmos,
haverá mais luar do que da última vez?
onde,
onde a varanda para os nossos passos?

voar

quando cresci ouvi do mundo
que ele só era mundo porque
porque
olha, porque as pessoas viviam entre cortinas
alguém prometia um pedaço de cetim
e no auge do aneurisma
outro alguém fechava a porta
era simples fazer medicina
tão simples
como mentir

no fundo o que todos nós fazemos
eu
tu
no fundo o que fazemos à beira das janelas
não é flutuar
não é verter as nuvens para dentro do nosso beijo
bem mo querias fazer parecer
mas

voar
só quem percebe de física é que voa

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Andrómeda


fizeste de mim
escudo e noite
palavra assassina
poeta a virar a esquina
grilhão e archote
luz imersa
praia deserta
foste o centro e o fim de tudo
e no universo
eu fui a Andrómeda dos desejos
retirada instantânea
retrato e negação
novo capitel em cada praça
o teu peito não era a condenação
marcha e parada
luzes
silêncio

pedaços de ar
o sol é outro quando ressurges

e porquê as palavras?
porquê o toque
a esperança
o pórtico
o convite
o pranto
o amor
e
porquê o mundo?