domingo, 26 de agosto de 2007

Trapézios


conhecer o ritmo da tua pele
as sombras
os ângulos perfeitos da tua face
e as promessas que fazes aos meus lábios
concretamente
render-me ao odor que exalas
pedaço de segredos e de luta
arrancar com as mãos a tua voz mais profunda
e sentir o pulsar da tua dor
como quem experimenta o desejo
na expectativa dos meus dedos

a minha mente buscava a simetria
o modo mais geométrico de pedir amor
e se posso atravessar de um lado ao outro
o teu olhar
colho a limpidez
a abertura de cada poro
a ousadia do teu corpo
as manhãs claras em que te tornas evidente
as veias ameaçadoras
as linhas fluidas
desde o lugar onde ontem não te degolei
até ao amplexo em que ouço o vapor da terra
enquanto adivinho o teu coração

se posso atravessar o teu rosto
de um lado colocarei a língua
junto àquela tua diária emancipação como homem
e a aspereza levar-me-á ao outro ponto
onde já me terás deixado o arrepio
pronto e imaculado
na sua concepção vulcanológica
que de noite significa
irrupção
morte
correntes infindas
de encontro à tua boca

um outro caminho
incógnito
a nossa dança tem muito de ritual
de culto
um pouco de quarteto de cordas
quando na verdade somos uma banda de um homem só
sempre que inclinas a cabeça um pouco mais
e desenhas sonhos que nem eu consigo perceber
prefiro pensar que és dono de umas quantas estrelas
uma propriedade que guardas desde os tempos em que brincavas
com o fogo o silêncio uma bola
prefiro pensar que ao tocar-te
ao sentir-te tremer sobre mim
calamos o poema
e deixamos a melodia dizer o mundo

no fundo aquilo que é óbvio
os teus longos lamentos quando entras em queda livre
são as notas que me faltavam
para compreender a nossa forma de fazer acrobacia

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