terça-feira, 23 de outubro de 2007

Retórica


um ponto final
era insuficiente para marcares as horas
quando te vi a dobrar a esquina
soube imediatamente que tinhas pressa
que dizer do teu silêncio?
sempre foste um poeta pós-modernista
mesmo enquanto me amavas
reduzias o vapor à sua essência mais concreta
sempre mediste o mundo com a palma da tua mão
talvez por isso não me pudeste conter
que me importam os rótulos?
eu próprio tinha mais asas que os dedos na tua mão

e se eu partisse a mesa onde apoias o teu mundo?
nasceria um deus emprestado
dissolvente
ou apressar-te-ias a colar tudo como estava?

adoro dançar à chuva
mostrar-te que conheço os segredos da luz
da decomposição das cores
vestir-me de sombras
mentir a mim mesmo
sentir a mesmíssima mão dos poemas concretos
a colidir com a minha face
pelo movimento do relógio concluo
que significo uma nova revolução estética
se me olhas desfazes o meu nome
se me dizes entro em silêncio
o meu rosto não podia sobreviver à tua mão sobre a mesa

4 comentários:

Anónimo disse...

É excelente andar pelos trilhos da blogoesfera e encontrar-mos blogs assim.

Belo texto.

Cumprimentos.

jorgeferrorosa disse...

É belo o teu escrito, é profundo... mas por vezes, o silêncio parece impôr-se como que uma urgência, para separar o amor ou algo que não ficou resolvido. Talvez nunca nada fique resolvido, algo falta sempre... as coisas concretas escondem outras posturas, muitas não se disponibilizam facilmente. Os segredos obrigam a algo e a inquietação é uma constante. A veste que temos é a da nossa alma, a das nossas sombras e o choque acontece face às contradições quando o olhar absorve do movimento dos relógios um outro significado, esse significado pode despoletar a revolução, deitando por terra toda a consideração inicial. Desfazemo-nos entre os nomes e os olhares que marcam no silêncio de nada dizer tudo e ficando tudo dito.
Tomo café e no café apenas sinto posturas enquanto o tempo desenha outras tentações, de silêncio, de máscaras modernas, por contornos que agora não te posso falar.
Apenas te quero dizer e redobro os votos de parabéns pelo teu post
Um abraço da Alma

Taty disse...

Ás vezes escuto pessoas que criticam quem passa algumas horas do dia na net, pensando ser perda de tempo, mas qdo encontro blg´s assim, que nem o teu que me faz viajar nas belas palavras que saem nada menos do que da alma de um ser, acrdito que essa horas que passo sentada em frente ao pc me faz ganhar e muito já que a poesia me faz conhecer pessoas que provalvelmente não conheceria.

bzÔ´S
Posso add seu blog ao meu, para que outras tantas pessoas conheçam a beleza dos seus textos?

www.eudesonexado.blogspot.com

Sol da meia noite disse...

E quando somos nós a partir a mesa onde apoiávamos o nosso próprio mundo?... Sinto que o fiz.

Aqui vim encontrar tanto do que precisava... Acasos felizes... talvez comece a acreditar.

Texto e música, o silêncio que procurava...