quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Mutilação


aproveita a pausa
mantém o passo
goza cada milímetro da dor
o deserto está ali mesmo
a apenas um palmo de sangue
as luzes tremem
sente-as nas tuas veias
procura um outro nervo
sobrevivente resistente no meio do embate
e ao reclinares-te
lembra-te de quantos mundos foram já plantados no teu corpo

porque a guerra é uma sala de pânico
há correias que te prendem
deixa passar as palavras
elas penetram-te por debaixo da pele
há algo que te fere por dentro
talvez uma agulha
ou o silêncio

alimenta-te de mais um pouco de cegueira
afinal a batalha passa sobretudo pela medula

grita
a voz está vazia
mas nunca te esqueças de ir morrendo pelo diafragma
precisarás da garganta quando te venderes
retira um pouco de prazer do colapso
nada possuis além do que já perdeste
e afinal o olhar é um carrossel que gira para trás da mente

o estrabismo
repito
não passa de uma ilusão das falhas eléctricas
louco serias se me visses
que fazes ainda a escutar os presságios de rua?

apressa-te
ainda deixaste aquele canto por cortar

2 comentários:

RIC disse...

Tenho dificuldade em comentar este tipo de escrita e gosto muito pouco de escrever que gostei muito, que é muito bom...
São atraentes os teus textos-poemas por a tua realidade atravessar «a» realidade e a transfigurar. De repente, estou a ver com outros olhos que não os meus. Obrigado!
Abraço! :-)

Paulo Ramos disse...

Lindo Fábio, Gostei mesmo muito, gosto, também, de ver que tens posto muita coisa aqui...

Beijão