segunda-feira, 12 de março de 2007

Alvedansen


Encontrar-te em cada pedaço de caminho das minhas mãos como numa floresta onde todos os espíritos do fogo e do vento encontraram um lar seguro longe das mitologias e das demais crenças humanas. Ser para ti um raio de luz ou fonte de água a cada nuvem de passagem sem término ou estação. Viver numa permanente dança de roda onde os meus dedos surpreenderão e resgatarão os teus enquanto nos seduzirmos em torno da grande fogueira. Ser eternamente cíclico e constantemente mutável, sempre que a Terra nos pedir novos cânticos para todas as cores que nos forem oferecidas.


Ou simplesmente regressar aos teus braços e ver nos teus olhos todos os mundos que me prometeram desde que comecei a minha jornada.


No infinito, serei ponte de todas as vozes vindas de qualquer vento e de todos os barcos que ancorarem no meu coração. No ventre da noite, seremos engenheiros de novos mistérios e o arauto de uma Primavera só nossa, de um lugar quintessencial onde a qualidade principal de cada ser é, mais do que caminhar, nascer.


Quando escreverem a história do nosso reino, ninguém se recordará do momento em que recriámos o fogo longe dos olhares do Sol e da Lua com as nossas mãos ávidas de proximidade. Mãos vulcânicas. Combustão lenta, numa alquimia em que cada membro une a carne ao seu espelho, em que o olhar descobre o aroma de uma lenda antiga nos tesouros de outro olhar. Desejo erguido desde as profundezas dos nossos corpos feitos raízes inversas de um solo ainda virgem. De entre as flores e os beijos, ascenderemos finalmente para fora do tempo. O silêncio permitir-nos-á jogar com a cegueira dos homens e transmitir o nosso poema unicamente por sussurros, entre nós os dois.


E a nossa imortalidade será um segredo só nosso.

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