sábado, 21 de julho de 2007

Arame farpado

jurei ser o teu olhar a tocar-me
piano em velocidade crescente nas rimas do comboio
jurei ser veludo
cada estação trazia-me o choque do tecido que afinal
era somente a tua pele de teclas novas
imprudentes
esquecemos o fio de terra quando descarrilámos

foi tão admirável a queda naquela tarde

escuro muito escuro
não há perdão para os amantes em viagem

atenção
é um pássaro
ou a noite suspende-te os braços?
e que me importa se é Verão
se mo dizes ou se o cantas?
apesar das janelas
é o teu corpo que brilha sob as minhas mãos
e em cada beijo que dou na sombra áspera do teu rosto
na devastação da densa floresta ao longo da tua pele
lembremo-nos do veludo selvagem dos pianos
há seiva pura a escorrer pelos carris

fios leves e afiados recortam-nos os gestos
cordas
uma em Sol outra em Mi
arames unem de repente os nossos pedaços de naufrágio

porque ao longe
caem aviões nos meus sonhos

Sem comentários: