vomitar
certamente conheces o termo
sempre que te peço um abraço
um beijo
o calor do teu gesto
há algo de irrupção desmedida
entre a minha boca e a voz
bastar-me-ia o silêncio
afinal
foram tantos os anos em que vivemos a recibos verdes
tu guardava-los na mesma gaveta onde esperava o coração
bastar-me-ia que fosses
sei lá
um espaço de escuridão
dois braços numa caverna
o começo
pois tudo veio das trevas
incluindo
o meu corpo
consegues desenhar os passos
com que te pedi um pouco mais de água?
certamente
são irrelevantes os gritos
as paredes que não vêem tinta nova há décadas
as fissuras que se tornaram surdas
nada
quando foi que perdemos o pé no meio da corrente?
correntes prisões passos decapitação
possivelmente naufrágio
naufrágio sem dúvida
nem o nome do navio resistiu
conheces o termo
o começo e o desenlace
confessámos tantas vezes esses mesmos segredos
enquanto arremessávamos a luz contra os objectos
não eram os móveis que se deslocavam
eram tão-somente
as palavras
os ossos
deglutição
algo não passará de hoje
no trajecto do mundo pela minha boca
1 comentário:
uma palavra, excelente.!!!!!!!!!!bjs Asile (sleepwalker)
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