terça-feira, 14 de setembro de 2010

dizem que a dúvida é uma espécie de fome
a mente ecoa as suas carências com a mesma ressonância que o estômago
portanto se eu duvido de ti
se te conto os dedos enquanto te aproximas
deduzo que parte da minha fome só se resolve com o teu toque
a sombra quente que suspende a minha descrença

dizem que não há que ter medo da dúvida
que a verdade é sempre a mesma
do alto de um rochedo ou entre as pedras de uma maré baixa
ou ainda no salto desesperado de um para o outro
aprender é suscitar aparições em lugares vários
sem escapar a cada segundo da descida
é abraçar essa crescente finitude
o cerco que se fecha
a última vaga

é a mesma gravidade
com que desço entre mundos e poemas
que me faz aprender todos os satélites dos teus sonhos
e mesmo arremessado contra o teu último chão
perscrutá-lo disciplinadamente em busca de novas ondas e luares

nessa outra margem
outro universo
os ecos voltam a ensinar-me os teus dedos
e desta feita ouço que os lavas em água corrente
pergunto
o que é a verdade?
e entregas-me pedras em vez de pão
silêncio sem tentações
um sol vertical sem a tua sombra