
Janela aberta.
Horas e horas de sono perdido
expostas ao escrutínio implacável do Sol.
Será que o mar resistirá à força bruta da fuga das nossas almas?
De novo o aroma de novas folhas,
novos esmagamentos, cataclismos,
e vinhos cansados embora prematuros;
de novo o perfume da tua ausência
a passar com a tua sombra pelos lugares com pegadas frescas
onde não mais caminhas.
No início dos tempos,
deve ter havido apenas o recreio deserto
onde deixámos o olhar de lado.
É tão perfeito o avesso de todas as coisas.
Luz.
Sempre o mesmo pedaço de sonho e rebeldia,
ascensão e queda,
a invadir os meus olhos.
Do ponto de vista de quem se debruçou sobre todas as noites
e de todas guardou um pouco das vozes que foi ouvindo,
o amanhecer bem poderia ser uma maré baixa
onde cada traço é puro jogo
e as cores são um negócio à parte
entre o olhar e a dor
pelas mãos de um dia de fúria gravadas no rosto.
De espelho em espelho, nada seria distinto.
Colei-me ao dia porque a sedução da cegueira me fazia respirar além da janela.
Fui caminhante em terra árida,
e por instantes a revelação fez-me perguntar-me a mim mesmo:
"Como te chamas?"
"A quem persegues debaixo deste sol?"
Contudo,
notei que a minha barba continuava a brilhar como fogo,
como sempre,
à luz da ira e do sangue,
e percebi que eu ainda era outro
e que o meu nome ainda não me pertencia.
Eis que o dia tinha chegado.
Os anjos repetiram o seu voo estreito.
O vento prosseguiu o seu ditado.